quinta-feira, 2 de janeiro de 2014



The beginning is a very delicate time


Há quase um ano, entrei neste lugar escuro para abrir as janelas de par em par, fazendo promessas que obviamente não saberia cumprir, mas fazendo-as ainda assim, porque a fina melancolia dos grandes momentos de transição assim o determina. Prometi uma arqueologia que não cumpri. Agora, hesito sempre antes de passar os dedos sobre as velhas feridas. Se pudesse, descascava partes de mim como pedaços de pele velha, morta, cuja utilidade se perdeu. Difícil é o exercício de distinguir, no momento da embriaguez ávida da mudança, aquilo que é precioso. As coisas de que nunca nos podemos desfazer. Em Setembro de 2011, esbocei uma nota que nunca viu a luz do dia:


Uma história mais-que-perfeita começou assim, com estrondo e com espanto, madrugada adentro, contra a violência do desencontro, as horas ardendo sobre todos os lugares doridos, e, arriscando a morte, estendemo-nos nesse chão inflamado, mas sobrevivemos, e por isso a história recomeça, ao mesmo som do espanto e da violência e das pequenas mortes, sempre mais-que-perfeita, noite após noite, mês após mês, ano após ano.



Scout Niblett & Will Oldham | Kiss




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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013



Incovenientes quotidianos


Quando o corpo se acomoda à linguagem silenciosa dos desenhos, desabitua-se do penoso exercício da escrita. A clareza das imagens paralisa a fluidez do discurso. Há ainda coisas a dizer ao mundo, histórias à espera de ser inventadas, versos para ser roubados, e no entanto os dedos entorpecidos, tacteando, ariscando uma letra ou outra, já não parecem feitos à medida das palavras. A vida, às vezes, atrapalha. A tragédia das contas para pagar, a pequeninez de viver os dias à medida dos tostões que contamos. Mas há outras coisas, felizmente. O eterno, irreprimível, desejo de acreditar na primavera, porque a primavera regressa sempre. Este ano não fiz resoluções de qualquer tipo. Tenho planos para dominar o mundo, já se sabe, e resigno-me a elaborá-los tentanto não entrar em pânico. Prometo (não resolvo, mas prometo) fazer deste little black spot o meu diário de viagens por esse mundo desconhecido e assustador que eu quero conquistar. Arregaço as mangas para iniciar um dos meus ofícios predilectos: escavar os velhos arquivos, sacudir o pó, pôr ordem na casa, abrir janelas de par em par. 2013, eu e o meu blog estamos prontos para ti. Bring it on, bitch!



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sábado, 22 de dezembro de 2012



.~*~. Making Christmas time! .~*~.



fig. 1
© little black spot 2012




A infância é um lugar estranho. À distância, mantém-nos ligados a si como uma correia subtil, que cresce connosco, apaziguando as dores do crescimento. Esta época, mais do que por qualquer outra razão, é especial por causa das raízes profundas que tem nesse território desconhecido, tão fascinante quanto assustador - a memória de ter sido criança. Por isso, venha a crise ou o apocalipse, nós aqui somos como a Antígona - não nos vergamos contra as desgraças - e se calhamos de acordar de um sonho terrível com o primeiro ministro de Portugal (céus, são mesmo sinais do fim dos tempos!), atiramos-lhe com a magia festiva para cima! A fórmulan infalível, por aqui, compreende:


* visionamento da trilogia "Senhor dos Anéis", do "Nightmare Before Christmas" e de um arbitrário filme de domingo (de entre uma panóplia selectiva, que pode estender-se desde o "A Series of Unfortunate Events" até ao "Edwardo Mãos-de-Tesoura");
* leituras de estimação: "Good Omens", de Terry Pratchett e Neil Gaiman, ou qualquer livro de Tolkien;
* comer biscoitos de gengibre como se não houvesse amanhã, disfarçados com chá de hortelá e canela;
* ouvir músicas de Natal com, pelo menos!, 30 anos de idade;
* fazer postais natalícios personalizados para a família e amigos (conferir fig. 1);



E para começar já, já, já:





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sexta-feira, 23 de novembro de 2012



planos para dominar o mundo #14


Um pequeno ponto preto chega finalmente à capital, qual rato do campo deslumbrado pela cidade. Mas não se deixem enganar pelo meu ar tímido e fofinho: eu tenho mesmo planos para dominar o mundo. Agora, no Lx Factory, até 23 de Dezembro (domingo a quinta, 15h às 19h):








«Um monstruário é um catálogo não convencional - um baú de curiosidades - de onde emerge um imaginário construído em torno de referências literárias.
O exercício taxonómico é uma expressão meta-científica de um desejo de nomear; organizar e classificar – com o intuito de domesticar – as criaturas que assombram esse imaginário. É um compêndio não universal em que cada item é descrito em função das associações líricas que desperta.
A presente exposição reflecte as influências recolhidas pela artista na ilustração científica e nas ambiências da era vitoriana, bem como num profundo fascínio pela estranheza, que não se dissocia de um romatismo vagamente envergonhado.
A artista acredita que as melhores histórias estão povoadas de criaturas bizarras, e que há, na profunda simbologia dos monstros e demónios interiores, o melhor dos pretextos para a elaboração de narrativas. A assombração é apenas uma etapa da familarização. É inevitável, essa ternura ambígua pelos próprios demónios domesticados.
O seu monstruário pretende sublinhar que o mais desconcertante em todas as criaturas assustadoras é não terem ninguém que as compreenda.»


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domingo, 23 de setembro de 2012



Inscrição


O ritmo é uma coisa assombrosa. Uma espécie de música silenciosa, um breve sopro inaudível, uma lenta respiração que recorda o próprio início dos tempos. Uma ténue vibração de cordas interiores, e todo o corpo repica como um sino acossado. O coração acorda, e a memória também. É quase apenas um pressentimento, o odor da chuva, a antecipação dos dias cinzentos, das horas menores. Setembro é um mês de rituais: fecham-se as mãos em concha, fecham-se as pálpebras sobre o mundo, desce a noite sobre o arvoredo. À chegada do outono, o corpo prepara-se para as cinzas. E tal como regressa a outra às profundezas da terra, pelo crime de ter provado do fruto saturnino e, com ele, do conhecimento do inferno, também eu regresso. «Nenhuma palavra alcança o mundo. Ainda assim, escrevo». *




* Mia Couto





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Celebrações ocasionais




© Lorenzo Durán



Outono

Uma vez um homem encontrou duas folhas e entrou em casa segurando-as com os braços esticados dizendo aos pais que era uma árvore. Ao que eles disseram então vai para o pátio e não cresças na sala pois as tuas raízes podem estragar a carpete. Ele disse eu estava a brincar não sou uma árvore e deixou cair as folhas. Mas os pais disseram olha é Outono.


Russell Edson, O Túnel
Assírio & Alvim, 2002


[via Bruaá]



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quarta-feira, 6 de junho de 2012



Yup, that's me. ♥






“I like people too much or not at all. I’ve got to go down deep, to fall into people, to really know them.”

Sylvia Plath, The Unabridged Journals of Sylvia Plath




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quinta-feira, 31 de maio de 2012



Primavera, calor, calções!






Por todo o lado, o zumbido das rotinas abranda. O dia-a-dia torna-se um pouco mais lento - e bastam 10 graus a mais na escala de Celsius. Hoje há, de certeza, muitas viagens sofridas no interior de automóveis abafados, e o suplício das horas de trabalho em espaços confinados, mas há também sandálias, calções, decotes, leques, bebidas frescas, e a benevolência dos dias luminosos na iminência do solstício - a vida oprime e a crise deprime, mas o nosso é um país que não tarda nada se vai fazer de esplanadas, minis e tremoços. A expectativa enche-me de emoção. Por todo o lado, enquanto o ritmo do quotidiano se vai tornando mais indolente, toda a gente revive canções de celebração ao sol. Para mim, estar às portas do verão, é isto:



Devendra Banhart | Shabop, Shalom




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sábado, 26 de maio de 2012



planos para dominar o mundo #13






Dominar o mundo, uma cidade de cada vez. Desta vez, Era Uma Vez no Porto. Apareçam!






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quinta-feira, 10 de maio de 2012



April was the cruellest month #5







Não gosto de misticismos. Ironicamente, o meu imaginário é povoado por redes complexas de associações líricas e mitológicas. Acredito em divindades improváveis, como os livros, as pedras, ou os girassóis. Gosto de pequenos rituais, em altares simulados, que espalho pela casa. Um frasco de vidro translúcido com flores, três pedras lisas no canto de um móvel, quatro conchas dispostas em arco, em redor de um objecto mundano. São os meus amuletos, os meus totens, a minha garantia de que é possível atravessar os dias em segurança, à margem do apelo dos velhos demónios. Porque gosto do sol, do mar, dos passeios nos lugares desabitados, do recolhimento dentro das histórias, cada um destes objectos me recorda de que o mundo não está em ruínas; que existe ainda o sol, o mar, os lugares pouco habitados e o conforto das histórias. Por causa de cada um destes objectos - o percurso matinal, desde o quarto à outra ponta da casa, "bom dia, concha", "bom dia, pedra", "bom dia, flor" - é possível respirar claramente, acreditar que em breve será possível correr para o exterior e sacudir o mofo do inverno agarrado aos ossos. A minha única religião é a do girassol e, por isso mesmo, não medito dentro de casa.


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posted by saturnine | 13:07 | 2 Comentários


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spot player special




"us people are just poems"
[ani difranco]


*

calamity.spot[at]gmail.com



~*. through the looking glass .*~




little black spot | portfolio
Baucis & Philemon | tea for two
os dias do minotauro | against demons
menina tangerina | citrus reticulata deliciosa
the woman who could not live with her faulty heart | work in progress
pale blue dot | sala de exposições
o rosto de deus | fairy tales








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~*. rearview mirror .*~


maio 2003 . junho 2003 . julho 2003 . agosto 2003 . setembro 2003 . outubro 2003 . novembro 2003 . dezembro 2003 . janeiro 2004 . fevereiro 2004 . março 2004 . abril 2004 . maio 2004 . junho 2004 . julho 2004 . agosto 2004 . setembro 2004 . outubro 2004 . novembro 2004 . dezembro 2004 . janeiro 2005 . fevereiro 2005 . março 2005 . abril 2005 . maio 2005 . junho 2005 . julho 2005 . agosto 2005 . setembro 2005 . outubro 2005 . novembro 2005 . dezembro 2005 . janeiro 2006 . fevereiro 2006 . março 2006 . abril 2006 . maio 2006 . junho 2006 . julho 2006 . agosto 2006 . setembro 2006 . outubro 2006 . novembro 2006 . dezembro 2006 . janeiro 2007 . fevereiro 2007 . março 2007 . abril 2007 . maio 2007 . junho 2007 . julho 2007 . agosto 2007 . setembro 2007 . outubro 2007 . novembro 2007 . dezembro 2007 . janeiro 2008 . fevereiro 2008 . março 2008 . abril 2008 . maio 2008 . junho 2008 . julho 2008 . agosto 2008 . setembro 2008 . outubro 2008 . novembro 2008 . dezembro 2008 . janeiro 2009 . fevereiro 2009 . março 2009 . abril 2009 . maio 2009 . junho 2009 . julho 2009 . agosto 2009 . setembro 2009 . outubro 2009 . novembro 2009 . dezembro 2009 . janeiro 2010 . fevereiro 2010 . março 2010 . maio 2010 . junho 2010 . julho 2010 . agosto 2010 . outubro 2010 . novembro 2010 . dezembro 2010 . janeiro 2011 . fevereiro 2011 . março 2011 . abril 2011 . maio 2011 . junho 2011 . julho 2011 . agosto 2011 . setembro 2011 . outubro 2011 . janeiro 2012 . fevereiro 2012 . março 2012 . abril 2012 . maio 2012 . junho 2012 . setembro 2012 . novembro 2012 . dezembro 2012 . janeiro 2013 . janeiro 2014 .


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~*. spying glass .*~


a balada do café triste . ágrafo . albergue dos danados . almanaque de ironias menores . a natureza do mal . animais domésticos . antologia do esquecimento . arquivo fantasma . a rute é estranha . as aranhas . as formigas . as pequenas estruturas do ócio . atelier de domesticação de demónios . atum bisnaga . auto-retrato . avatares de um desejo . baggio geodésico . bananafish . bibliotecário de Babel . bloodbeats . caixa-de-lata . casa de cacela . chafarica iconoclasta . coisa ruim . com a luz acesa . comboio de fantasmas . complicadíssima teia . corpo em excesso de velocidade . daily make-up . detective cantor . dias com árvores . dias felizes . e deus criou a mulher . e.g., i.e. . ein moment bitte . em busca da límpida medida . em escuta . estado civil . glooka . i kant, kant you? . imitation of life . isto é o que hoje é . last breath . livros são papéis pintados com tinta . loose lips sink ships . manuel falcão malzbender . mastiga e deita fora . meditação na pastelaria . menina limão . moro aqui . mundo imaginado . não tenho vida para isto . no meu vaso . no vazio da onda . o amor é um cão do inferno . o leitor sem qualidades . o assobio das árvores . paperback cell . pátio alfacinha . o polvo . o regabofe . o rosto de deus . o silêncio dos livros . os cavaleiros camponeses no ano mil no lago de paladru . os amigos de alex . Paris vs. New York . passeio alegre . pathos na polis . postcard blues . post secret . provas de contacto . respirar o mesmo ar . senhor palomar . she hangs brightly . some variations . tarte de rabanete . tempo dual . there is only 1 alice . tratado de metatísica . triciclo feliz . uma por rolo . um blog sobre kleist . vazio bonito . viajador


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~*. the bell jar .*~



os lugares comuns: against demons . all work and no play . compêndio de vocações inúteis  .  current mood . filosofia e metafísica quotidiana . fruta esquisita menina aflita . inventário crescente de palavras mais-que-perfeitas . miles to go before I sleep . música no coração  .  música para o dia de hoje . o ponto de vista dos demónios . planos para dominar o mundo . this magic moment  .  you came on like a punch in the heart . you must believe in spring


egosfera: a infância . a minha vida dava um post . afirmações identitárias . a troubled cure for a troubled mind . april was the cruellest month . aquele canto escuro que tudo sabe . as coisas que me passam pela cabeça . fruto saturnino (conhecimento do inferno) . gotham style . mafarricar por aí . Mafia . morto amado nunca mais pára de morrer . o exílio e o reino . os diálogos imaginários . os infernos almofadados . RE: de mail . sina de mulher de bandido . the woman who could not live with her faulty heart . um lugar onde pousar a cabeça   .  correio sentimental


scriptorium: (des)considerações sobre arte . a noite . and death shall have no dominion . angularidades . bicho escala-estantes . do frio . do medo . escrever . exercícios . exercícios de anatomia . exercícios de respiração . exercícios de sobrevivência . Ítaca . lunário . mediterrânica . minimal . parágrafos mínimos . poemas . poemas mínimos . substâncias . teses, tratados e outras elocubrações quase científicas  .  um rumor no arvoredo


grandes amores: a thing of beauty is a joy forever . grandes amores . abraços . Afta . árvores . cat powa . colectânea de explicações avulsas da língua portuguesa  .  declaração de amor a um objecto . declaração de amor a uma cidade . desolação magnífica . divas e heróis . down the rabbit hole . drogas duras . drogas leves . esqueletos no armário . filmes . fotografia . geometrias . heart of darkness . ilustraçãoinício . matéria solar . mitologias . o mar . os livros . pintura . poesia . sol nascente . space is the place . the creatures inside my head . Twin Peaks . us people are just poems . verão  .  you're the night, Lilah


do quotidiano: achados imperdíveis . acidentes quotidianos e outros desastres . blogspotting . carpe diem . celebrações . declarações de emergência . diz que é uma espécie de portfolio . férias  .  greves, renúncias e outras rebeliões . isto anda tudo ligado . livro de reclamações . moleskine de viagem . níveis mínimos de suporte de vida . o existencialismo é um humanismo . só estão bem a fazer pouco


nomes: Aimee Mann . Al Berto . Albert Camus . Ana Teresa Pereira  . Bauhaus . Bismarck . Björk . Bond, James Bond . Camille Claudel . Carlos de Oliveira . Corto Maltese . Edvard Munch . Enki Bilal . Fight Club . Fiona Apple . Garfield . Giacometti . Indiana Jones . Jeff Buckley  .  Kavafis . Klimt . Kurt Halsey . Louise Bourgeois . Malcolm Lowry . Manuel de Freitas . Margaret Atwood . Marguerite Duras . Max Payne . Mia Couto . Monty Python . Nick Drake . Patrick Wolf  .  Sophia de Mello Breyner Andresen . Sylvia Plath . Tarantino . The National . Tim Burton


os outros: a natureza do mal . amigos . dedicatórias . em busca da límpida medida . retalhos e recortes



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...it's full of stars...


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